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As Crónicas da Vítima

As Crónicas da Vítima

Não sei o que há a dizer

28.03.17 | Bruno
Não sei bem o que há ainda a dizer. Sinto que tudo o que poderia ser dito, já foi dito há imenso tempo. Como se todos os versos das madrugadas envoltas em fumo de cigarros já tivessem sido escritos; sinto que não resta uma só sombra de alma que não tenha sido escrutinada em análise a versos, a prosa confessional; sinto que não há qualquer estado de espírito que não tenha sido violado por olhares alheios; sinto como se não existisse qualquer palavra para descrever um sentimento que teima em não cessar. E são estas as horas de tédio, de mórbido desejo, em que anseio por um pouco de paz (uma dádiva da morte? ), que me trazem o anseio de caminhar junto ao mar, de ouvi-lo a cantar, lá de cima da falésia.
A noite irá alta. Sabe Deus quantas horas já não orei, rosto enfrentando o mar frio e zangado, enquanto mantínhamos um diálogo incompreensível para os demais. 
O fumo dos meus cigarros preenche os espaços, sem preocupação, sem remorsos. E a minha alma banha-se no sangue das vítimas inocentes, que dentro de si arrasta. 
Não sei bem o que há ainda a dizer. Não sei bem o que tanto me preocupa, não sei o que tanto consome a minha alma, em horas de ansiedade, de uma angústia que não pára, que não cala a sua voz dentro de mim. 

Há amores que não se explicam

28.03.17 | Bruno
Não me interessa o que pensem, o que digam. 
Não me interessa quantos cães ladrem ou quanto filhos da puta cuspam no teu nome (pena que não posso matá-los).
Não me interessa o que achem. 
Posso não ser daqueles teus filhos ideais. Posso não saber de toda a tua História, posso não recordar-me dos dias importantes, posso não ser mais que um grão de areia... 
Não me quero longe de ti. Não me quero afastado de ti. 
Queria ser poeta e transformar-te num poema que durasse pela eternidade. Queria ser algo mais, algo maior nascido de ti, criado por ti e para ti, servir-te num bem muito maior. Queria declamar este meu amor, gritá-lo a todo o Universo, que todos soubessem o teu nome, que todos te olhassem com reverência, que baixassema cabeça ao ouvirem ou ao pronunciarem o teu nome. 
Há coisas que não se explicam. E este meu amor por ti, é dessas coisas: não se explicam, não se justificam - nasce-se, vive-se e morre-se com ele. 
Amo-te, meu Portugal amado e adorado. Amo-te e orgulho-me de ser teu filho, não importa quão imperfeito eu seja. 

A dor e a saudade de mãos dadas

25.03.17 | Bruno
Não se passa um dia em que o esquecimento seja palavra de ordem. Posso esquecer nomes, um ou outro pedido, mas não esqueço as marcas profundas que a vida deixou na minha alma. Não posso esquecer, de maneira alguma, as dores que sinto, sem saber porquê, sem saber de quê.
O mesmo se passa com a saudade. Todos os dias, todos os santos dias, a dor e a saudade dão as mãos e vêm passear no meu peito. Por vezes, disfarçam-se com um triste sorriso, em que a tristeza passa despercebida... mas há alturas em que nada me acalma, nada me deixa disfarçar a mágoa.

Senti, no fundo da minha alma, o beijar da tua lâmina, fria e cruel, rasgando toda a minha tranquilidade. Desde então, esqueci-me o que é sentir a paz de quem ignora os males da vida.

...

12.03.17 | Bruno
Há coisas tão íntimas, tão nossas, que não devem ser faladas ou expostas. Num mundo como o actual, em que a sobre exposição é trendy, isso acaba por ser cada vez mais importante.
E, assim, vai sendo no mundo, tal como na vida. Vivemos oscilando entre batalhas de valores, que mudam consoante o que temos.

Gostava

10.03.17 | Bruno
Gostava de decifrar o teu olhar. Gostava de decifrar o teu sorriso. Gostava de decifrar tanta coisa nesta vida, como se tudo fosse um simples e bonito enigma, mas há coisas que ficam apenas pelo desejo - acredito que há pessoas que são desses objectos de un certo desejo, mas que ficam por aí.
Gostava de entender que marés te levam, que marés te trazem.
Gostava de entender que mágoas vejo no fundo do teu olhar.
Gostava de entender que mágoas queimam no fundo da minha alma, mas tem parecido algo impossível de conseguir.

Será que sabem?

06.03.17 | Bruno
Será que sabes realmente quem sou? Será que sabes de onde vim, o que eu já fiz, o que eu já passei? Nunca poderei esquecer, mas poderás nunca saber.
Pergunto-me muitas vezes, se valerá a pena desistir de tudo isto e mudar. Mudar o meu pensamento, face ao que já se passou, face ao que já se viveu, face ao que se deseja. E acho que não vale de muito, dado que não mudou o que sinto, nem o meu desejo de afastar-me. Afastar-me muito e cada vez mais. Afastar-me à distância de um braço esticado, de todo um oceano.
E as coisas que não fazem sentido, não terão sentido para outros? E as coisas que uns ambicionam, teremos que ambicioná-las todos? Teremos que ser iguais ou similares para nos querermos bem? Teremos que desejar todos o mesmo, para que possa existir entendimento entre nós?
Não sei o que é que me tem trazido preso a este sentimento. Não sei o que é que tem feito com me prenda a esta saudade de um passado cada vez mais distante, tentando abraçá-lo, tentando salvá-lo das águas negras e geladas do lago da vida. Como se quisesse abraçar o cadáver do que já fui.
Será que sabem o que já fiz a mim próprio? Será que sabem o quanto desejei a morte, o quanto brinquei com ela? Será que sabem quantas lâminas fizeram carícias aos meus brancos braços, pernas, ombros? Será que sabem quanta dor procurei, para me aguentar? Será que sabem quantas mágoas calei (e ainda calo)? E quantas vezes fui criticado por expor o que me magoava? E por esconder o mesmo?
Vale-me mais manter o afastamento. Vale-me mais a distância de ti, quem quer que sejas, vale-me muito mais a força do isolamento, o endurecimento da alma, por não ter para onde se virar, para onde se esconder. Vale-me tão mais isto, estes recantos próprios, controlados, em que entra quem quero, que vêm o que quero, se quero ou quando quero. Vale-me mais ser só, sem mentiras, nem enganos. Vale-me muito mais ser feliz por conta própria.

Não interessa

06.03.17 | Bruno
Não interessam os dias que passem. Não interessa como se preencham as horas. Acaba por ser um tédio imenso, este de viver numa busca constante, sem saber aquilo por que se procura.
Não importa quão boas sejam as piadas. Não interessa o interesse das pessoas. Não interessam os sorrisos. Não interessam os dias de chuva torrencial ou de sol abrasador. Este tédio é imenso e é uma companhia de muitos anos e de muitos momentos a sós, em que as pessoas me rodeiam e eu sinto-me sozinho, morrendo lentamente, enquanto saboreio a vida. Lambo os lábios, como se provasse o mais delicioso dos néctares, mas é a vida que sabe bem. E sabe mal. Agridoce é o gosto da primavera e de cinzas na minha boca, na boca do meu ser, na boca da minha alma.
Os dias podem ser calmos. O meu olhar sereno pode esconder uma imensa tempestade, lá dentro, no mais íntimo do meu coração. O tédio pode reflectir-se nos meus suspiros repentinos.
Um dia calmo pode terminar na merda. Um dia de merda, pode tornar-se um dia excelente. O mar calmo pode engolir embarcações gigantescas. O mar revolto pode guardar carinhosamente as preces que nele são debitadas.
A minha alma é feita de fogo e de lágrimas, de intenso gosto de viver e do profundo abraço à morte. A minha alma é uma imensa contradicção. E nesta contradicção, perco-me... sem encontrar-me...
Não interessa nada, se nada, na minha alma, muda.