Amor ou Luxúria?
Há questões para as quais nunca obtemos resposta. Outras há, que a resposta é (parece) óbvia. E há aqueles que são retóricas: ou seja, não carecem de resposta, mas, ainda assim, são lançadas ao ar. Esta, é das retóricas.
Não me entendo, mas conheço-me bem: para mim, vencerá sempre a luxúria, o desejo. E é por eles que escrevo, muitas vezes, sobre alguém. Mesmo no caso de alguém que cortei da minha vida e que, recentemente, levou-me a desistir de uma aplicação de encontros, que mantinha apenas para ver quem andava por aí, para observar... e absorver.
Em tempos, sentia que a máxima da minha vida era encontrar o amor: queria, demasiado, ser amor, ser querido e desejado. Queria que me amassem, que me elevassem num pedestal. Contudo, apercebi-me que sentia isso de forma unilateral: queria ser, não dar, oferecer. Queria tudo aquilo que esse sentimento despertasse em alguém, sem que o sentisse. Talvez por, em todas as vezes que me permiti a gostar um pouquinho que fosse de alguém, acabar sempre num mundo ilusório, em que roçava a obsessão, mas sem que existisse o que fosse de recíproco.
Cedo desiludi-me com esse sentimento e tornei-me nessa "fera ferida", que busca saciar o desejo, perder-se na luxúria, como que para satisfazer os seus instintos. Aprendi como matar o sentimento e a ligar o instinto de sobrevivência. E, muito sinceramente, não me tenho dado mal.
A minha mãe e a nossa prima são muito dadas ao espiritismo, à ideia de que tudo tem uma razão de ser, de que todos temos uma missão a cumprir. Há uns anos, como parece ser óbvio, pareceria-me que a minha missão tinha que ver com o amor. Actualmente, não sei se o amor ou a própria luxúria estão dentro das minhas missões ou dos "planos superiores" para o quer que seja que esta minha existência esteja reservada. Escrevo, porque escrever é mais forte do que eu e, tal como a luxúria, é, para mim, um bem de primeira necessidade. Escrevo ara manter um pouco que seja da minha sanidade e, ainda que os temas possam ser algo repetitivos, escrevo para que não se tornem focos de obsessão.
Há questões retóricas. E o amor é uma delas. Diz-se que o amor não se explica, vive-se. Mas pode viver-se o amor, sem que este se dirija a um outro alguém: podemos viver o amor através dos nosso animais, de um dia de sol ou de chuva ou duma noite gelada. Podemos amar a distância, a imensidão de uma vista montanhosa, campónia. Podemos amar as memórias, para que tenhamos forças para construir novas memórias. Podemos sempre amar-nos a nós próprios, porque somos o mais importante que temos.
Pode amar-se, sem se amar? Acredito que sim. Contudo, não procuro amar, senão apaziguar a angústia que me consome. A bem ou a mal, vou amando: quando mais não seja esta angústia, por tornar-me quem sou.