Sei que a ideia deste texto, seria ser publicado no dia 25 de Abril. Contudo, nem sempre estou com disposição para cumprir datas, como foi o caso desta vez. E o tema desta semana do desafio das 52 semanas de 2022 é o amor: escrever sobre o amor. E o que é o amor?
O amor são as memórias que tenho com a minha mãe: passar em frente a uma montra e ver dois ursos de peluche, um maior e um pequenino, e gostar tanto deles, que a minha mãe me comprou um par; o amor é gravar as novelas que a minha mãe gosta e vê-las com ela; é qundo nos abraçamos e, por qualquer motivo ou sem motivo algum, apertarmos o abraço e ficarmos nele por um tempo; é recordar-me de situações menos boas na minha vida e ter sempre aquela presença, por vezes mais fria, mas que nunca me faltou. O amor é recordar o meu pai que morreu tão cedo e as madrugadas de fim-de-semana em que acordava às três ou quatro da manhã, para aproveitarmos mais tempo juntos - ideia da minha mãe.
O amor é recordar a minha tia e os meus avós. É recordar um momento em que achava que tinha perdido a minha tia e desatei a chorar e a correr à procura dela; eram as tardes na praia ou as viagens para a terra; o amor era ter um saco cheio de avelãs e pinhões, que a minha avó tinha apanhado para mim; é a memória doce da voz do meu avô, do seu olhar carinhoso e as horas que passávamos juntos; são as meórias de jogos de cartas pela noite fora, com o meu avô, a minha tia e umas amigas de lá; as noites que passava com a minha avó e a minha tia no corredor de casa, com um amigo ferreiro e o Vitinho.
O amor é não largar a memória daquele amigo que o mar decidiu reclamar para si, há quase cinco - faz no próximo dia 3 de Maio. São, também, amor, as amizades que criei a trabalhar à noite naquele café e as memórias que, velhos e novos amigos, criámos; olhares trocados e momentos consumados, corpo no corpo, boca na boca. Porque até um amante tem um pouco de amor.
Mas também a noite tem amor: as ruas frias que percorro, as esquinas que conheço tão bem.
Também conta o amor-próprio: o largar-me de alguém que não interessa para a minha vida e que, no fim de contas, também não tem interesse em manter-me na sua. O amor prórprio, o respeito por mim mesmo, são formas de amor. E como escolho, como já escrevi antes, deixar de seguir pessoas nas redes sociais, porque o tédio que ver as suas vidas me oferece é consumir-me mais um bocadinho. Largar-me de certas pessoas, de certos locais e de certos andamentos.
O amor tem muitas formas. Podem ser pessoas e momentos, os meus gatos ou o meu canário, por quem entro na cozinha às escuras para não acordá-lo. O amor pode ser, também, o silêncio da noite em que nos envolvemos, com os nossos pensamentos, uma bebida e um cigarro. O amor pode ser tanta, tanta coisa, mas há muito que não pensava sobre isso. Ou, se pensava, sacudia os pensamentos da minha cabeça.