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As Crónicas da Vítima

As Crónicas da Vítima

Pouco a Dizer

07.05.22 | Bruno

Sobre o dia, não há muito a escrever ou a dizer. Sobre a noite... bem, também não. Talvez.

Enquanto estou no café, o meu olhar depara-se com aquele de quem fui amante até há pouco tempo. Quando desapareceu, com a namorada, sorri ligeiramente. Não me arrependo de ter bloqueado esse rapaz nas redes sociais, através das quais me contactava, depois de me aperceber que fora bloqueado no Messenger mais uma vez. Não me arrependo de ter oferecido aquelas experiências novas, mas arrependo-me de ter permitido que certos jogos tivessem durado demasiado tempo - nunca fui muito de jogos, menos ainda com quase 35 anos.

Do café, fui com dois conhecidos à feira de Maio. Há muito que festas e feiras deixaram de dar-me aquela sensação de alegria. Há muito que deixei de sentir que pertença a certos meios, a certas pessoas. É como as ruas: aquele idiota, mais um, chorava-se de que já ninguém se lembrava dele, mas as ruas só são boas, se forem, enquanto fizeres o seu jogo. Quando deixas de estar ali e de participar naquilo que te é oferecido, muito rapidamente passas de um nome conhecido ao esquecimento.

Afastar-me de algumas pessoas e das ruas foram das melhores decisões que pude tomar, ainda que, muitas vezes, a escolha não fosse propriamente minha. Não deixa de ter sido das melhores coisas que puderam ter acontecido. Largar alguns amantes, largar certos conhecidos, largar certos caminhos, foram, sem dúvida, o melhor rumo.

Não há muito sobre o que escrever: o dia foi aborrecido, igual a tantos outros. A noite, foi tranquila, apenas um olhar de segundos, apenas duas voltas numa feira, que está reduzida a pouco mais que umas barracas; sobra-me apenas uma ligeira tristeza, que está reduzida a uma tristeza ainda maior, por sentir essa tristeza de forma constante.

Rejeição - Sofrer Para Aprendê-la

06.05.22 | Bruno

Aprende a rejeição, sofrendo da rejeição. Já todos aí estivemos e, muitas das vezes, continuamos a estar.

Actualmente, já não tenho essa necessidade de agradar aos demais, pelo que, muitas vezes, rejeito situações ou pessoas que, há uns tempos, aceitaria apenas para agradar-lhes. Nestes últimos dias, tenho percorrido, mentalmente, algumas pessoas e situações recentes que tenho vindo a rejeitar: alguns, acabam por deixar-me aquele gosto agridoce na alma, por saber o que é estar no seu lugar; outros, são pessoas que, em tempos, possam ter tido qualquer importância para mim, mas a vida tratou de nos colocar nos nossos devidos lugares. Ainda que possa lamentar certos afastamentos, sou mais grato por conseguir colocar-me no meu lugar, com aquilo que quero e afastando-me daquilo que não quero na minha vida.

Às vezes, penso que gostaria de ter atingido tal "auto-conhecimento" mais cedo, mas a vida tem formas engraçadas de funcionar. O desejo deixa de ser desejável, para que novos desejos surjam; as pessoas deixam de ter importância, para que novas pessoas tenham lugar.

Às vezes, penso que gostaria de ter chegado a este ponto mais cedo, mas parece que tudo chega na hora em que tem de chegar.

Ainda que tenha sido rejeitado, para aprender sobre a rejeição, tenho tido que rejeitar, para que outros aprendam sobre a rejeição. Para alguns, pode ser a dolorosa aprendizagem que foi para mim; para outros será, no fim de contas, apenas um pequeno inconveniente, pois terão outros que se entregarão a esse desejo de conhecer aqueles becos. Desejos recentes, que não se tornaram as cinzas frias do tempo passado.

Rejeito, porque o desejo morreu e espero que sirva como forma de aprenderem sobre isso. Se não o aprenderem comigo, lamento que tenham que vir a passar por outros momentos semelhantes, mas a minha parte já foi feita.

Cinco Anos Sem Ti

03.05.22 | Bruno

Faz cinco anos que o mar da Foz do Lizandro te levou e são muitas as coisas que queria escrever, contudo sinto-me incapaz.

Em cinco anos desde a tua morte nas estúpidas circunstâncias que foram, são várias as vezes que me passas no pensamento: quer seja na saudade, na dificuldade de ultrapassar estas estúpidas circunstâncias que levaram à tua morte naquela tarde, nas memórias boas que temos, nas vezes que, sem me aperceber, te chamo a uma conversa. Queria escrever muitas coisas, mas não adianta de nada, porque não estás para lê-las; queria dizer muitas coisas, mas não adianta, porque não estás cá para ouvi-las.

Faz cinco anos e nem esse tempo torna as coisas mais fáceis: a dor é, na verdade, mais suave, mas sinto sempre a falta. Há pouco tempo, quando fui beber café, lembraram-me de uma coisa da qual nem me lembrava: quando o café em que trabalhava e onde te conheci mudou de gerência, também mudaram os meus horários. Eu fazia a abertura e o fecho e sabendo que abria o café, depois de uma noitada, começaste a ligar-me eram seis e meia da manhã. Quando lá cheguei, estavas com o outro rapaz que me lembrou disto e com mais alguém, que não recordo quem seja, e pediram-me se podiam ficar na parte de baixo do café. Ofereci-vos o pequeno-almoço, que eram umas tostas mistas de carcaça e algo para beber, que imagino que fosse um sumo ou um Ucal. Sorri, ao recordar essa história.

Cinco anos se passaram, desde aquela fatídica tarde, em que ouvi uma ou outra história das pessoas que foram àquela praia naquela tarde e as situações que levaram a que estivesses ali. As coisas não podem ser mudadas e a saudade não desaparece. Contudo, e apesar de ter vontade de chorar, mantenho-me firme, olhando o vazio da minha parede: no fim de contas, tive o prazer de te conhecer e a honra de chamar-te de amigo.

Acredito que haja qualquer coisa mais além disto, desta vida e deste mundo, e acalma-me a tristeza de saber que, entre tanta gente que de certeza me receberá, tu será um deles. E devo afirmar que não vejo a hora de voltar a ver-te. Por agora, abraço as memórias que me ficaram.

52 Semanas de 2022 | Sobre o Teu Dia

02.05.22 | Bruno

Era para ter escrito durante a madrugada e deixar o texto agendado para publicar às primeiras horas da manhã, mas acabei por distrair-me com um filme que estava a dar na televisão eacabei por não fazê-lo. E, sobre o meu dia, não tenho muito a dizer: estou desempregado e os dias têm corrido iguais. Acordo, fico mais um pouco na cama, enquanto tiro as notfiicações das redes sociais e viro-me para o lado. Durmo mais um pouco, levanto-me para almoçar, fico a ver TV e, ao fim da tarde, vou buscar a minha mãe à estação. à noite, irei, muito provavelmente, ao café, onde me demoro pouco - se demorar mais um pouco, é porque encontrei alguém e fiquei à conversa.

O fim do dia apresenta-se nublado e, através da janela fechada, consigo ouvir o vento a soprar. De vez em quando, o sol espreita por detrás das núvens, aquecendo a parte de trás do meu pescoço.

Os dias têm sido muito parecidos. Muda a numeração e o tempo, que passa e não perdoa ninguém e que é o mais precioso que podemos ter. Alguns de nós, desperdiçamos esse bem que não iremos recuperar.

Texto no âmbito do Desafio das 52 Semanas de 2022