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As Crónicas da Vítima

As Crónicas da Vítima

Três e meia da manhã

28.03.24 | Bruno

Às três e meia da manhã, lembrei-me de uma velha música electrónica e decidi ouvi-la.

Olha para trás e apercebo-me do tempo que passou, velhos rostos e alguns momentos mais marcantes - evito a negatividade. E sinto saudades.

Às três e meia da manhã, despertei uma saudade. Do que já foi, do que nunca permiti acontecer e de mim. Hoje, sou mais e bastante diferente. 

No Silêncio

27.03.24 | Bruno

Às vezes, é no silêncio da alma que melhor nos encontramos.

Se nada tenho a dizer, é o silêncio que me fica. Por vezes, acompanho o silêncio com o afastamento e está tudo bem.

Estou a encontrar-me.

Metamorfose

15.03.24 | Bruno

Quando bate a vontade de escreve, mas não há um texto definido.

Quando bate a ânsia de depositar nadas. Em papel. Ou no ecrã de alguém.

Quando o anseio de escrever ou escrevinhar é grande. E, dentro de nós, algo se rasga nas palavras sem sentido.

É nessas horas que devemos largar-nos e deixar-nos ir. Porque a alma é tudo isto e algo mais. Porque é estes anseios e estes rasgar de nós próprios, como nós abrisse pelas estranhas. E se em cada morte há um renascer, em cada fase morta, há um novo "eu".

Quando tudo parece falhar e abandonar-nos, a escrita ou os rabiscos num papel estão sempre lá. "Porque eu quero" e "porque eu preciso" são tão válidos como qualquer outra resposta. Como qualquer outra acção ou reacção.

Quando é madrugada e o silêncio é maior, maior ainda é o grito da nossa alma. Escrevamos.

Porque escrever mata e liberta. Porque escrever ajuda ao renascer.

Sobre escrever e a sensação de futilidade

08.03.24 | Bruno

Às vezes, tento escrever certos textos que, no fim, acabam por soar a futilidade ou estupidez. E apago. Recomeço para dar-lhe o mesmo destino.

Queria escrever sobre manter-me leal à Google, devido a usar o seu sistema operativo no telemóvel, mas acho que ninguém quer saber que desactivei várias das suas aplicações e uso um browser que me poupa o espaço de várias outras e que evita que abra, acidentalmente, sites através de pop-ups irritantes e repentinos. Ou sobre escolher a aplicação do meu serviço de e-mail, ao invés de usar a multifacetada aplicação do Gmail - onde não tenho conta. No fim, soa-me tudo a fútil e, quiçá, desnecessário.

Hoje, fui ao hospital para fazer um exame que não fazia há uns anos. Para casa, voltei a pé, parando ainda em casa de uns amigos, numa caminhada de uns 10 KMS. No próximo mês, tenho a primeira consulta de psiquiatria em mais de dez anos. Da mesma forma que me expresso neste texto e resist a fazê-lo, também a redes sociais são o meu escape ansioso: sigo e deixo de seguir até à exaustão.

Às vezes, quero escrever, mas a minha mente parece um furacão. Passam muitas ideias e sensações diminutivas auto-infligidas. Auto-boicote. Talvez por isso, não consiga avançar do ponto em que me encontro. Talvez por isso.

Escrever de Forma Ansiosa

02.03.24 | Bruno

Li, há uns tempos, que uma das formas de lidar com a ansiedade, seria escrever. Não importava o quê, simplesmente escrever. Contudo, escrever pode tornar-se uma fonte de ansiedade.

São muitas as vezes em que começo a escrever e acabo por apagar: o texto não soa como o imagino, o pensamento não flui ordenadamente e outras tantas coisas que arranjo para apagar o que estava a escrever. Recomeço e recomeça o penoso processo de escrever e apagar. Desisto e vou ver ou fazer outra coisa qualquer. Acendo outro cigarro e não regresso.

Escrever sobre o que sinto, sobre o que se vai passando, sobre o que vou decidindo. Por vezes, sinto que dou demasiadas informações e, doutras, é como se não existissem informações suficientes. E sobre esta música que toca nos meus fones, às quatro e meia da manhã, que se tornou o meu canto seguro, aquando de alguns dos piores momentos da minha existência. E escrevo, sem conseguir explicar nada disso. E está tudo bem.

Escrevo, para mim e por mim, num espaço que pode chegar aos olhares alheios. E porque não?

A Necessidade De Ajuda

01.03.24 | Bruno

Recentemente, um amigo ligou-me para irmos ao café e convidar-me para um jantar do seu aniversário. Entre conversa, diz-me que a irmã de uma conhecida faleceu, aparente suicídio. Poucos dias mais tarde, um rapaz que conhecia de vista, amigo de amigos e conhecidos, faleceu. Na publicação que vi, lia-se sobre "o abraço que não te dei quando precisaste". Soou-me o alarme de suicídio, o que veio a confirmar-se.

Há vários anos que estou diagnosticado com depressão e ansiedade, tendo chegado a fazer exames cardiológicos derivado a esta última. A vida não foi fácil e nunca levei tratamentos a sério e o acompanhamento foi, a meu ver, fraco e quase nulo. Acontece que, devido a varias coisas da vida nos últimos anos, senti que o meu nível depressivo e ansioso têm vindo a agravar-se. E estas últimas notícias, ainda que não fossem pessoas do meu circulo próximo, afectaram-me. Mais do que seria aconselhável.

Há cerca de duas semanas atrás, decidi pedir ao medico que me acompanha no hospital que me reencaminhasse para psiquiatria. Há muito que sinto necessidade de fazer uma avaliação do meu estado psiquiátrico e estas notícias reforçaram essa necessidade. Há bastante tempo que digo "tenho que ir ao médico, para fazer uma avaliação psiquiátrica", mas nunca passava disso. Se há males que vêm por bem, a morte do filho e do amigo de alguém, foi a minha bóia de salvação, para procurar a ajuda que há muito sei que preciso.

Por enquanto, ainda me resta a espera. Contudo, sinto a ansiedade desta mesma espera: de receber algum acompanhamento, de saber em que estado está, realmente, a minha mente, de saber o que vai sair daí. Mas é esperar que farei, procurando não deixar arrastar-me para a obscuridade desses velhos pensamentos, nem voltar aos desejos de rabiscar a minha pele com uma lâmina fria e afiada.