Ultimamente tenho aceite vários desafios por aqui. Um dos que me propus a aceitar foi mesmo o Desafio da Ana, que tem um tema para cada semana, como poderão verifcar se visitarem o link para o desafio. Estamos na sétima semana do ano (já?), pelo que o tema desta semana é sobre a felicidade. Vamos lá ver que tal me saio.

Este tema é-me estranho. Não costumo escrever sobre a felicidade. Tenho sempre a preferência de vivê-la ao invés de escrevê-la. Para mim, a felicidade está no vento frio que me gela a cara e ao qual abro os braços, como que para abraçá-lo; no sol escaldante do verão e do vento sufocantemente quente; no cheiro e no som do mar no fundo da falésia e na praia, quer de dia, quer de noite; é escrever as minhas mágoas e frustrações e sentir que, após isso, posso continuar.

A felicidade tem cheiro e morada - são as ruas praticamente desertas da minha velha aldeia e o sol que nasce e põe-se num mar de verde. A felicidade é a névoa que se liberta da copa das árvores da Serra de Sintra e que envolve as cidades circundantes; são as ruas nocturnas da minha cidade, que caminho sozinho e, muitas vezes sem rumo, só pelo prazer de andar; é a distância que um olhar alcança.

Mas a felicidade é, também, feita de pequenas coisas do nosso dia a dia: é o abraçar os meus gatos ou correr atrás deles pela casa, como se fosse um miúdo de dez anos; ir ter com a minha mãe à estação de comboios ao fim da tarde e receber um abraço ou quando me deita a língua de fora. A felicidade são os efémeros momentos junto de quem queremos e amamos.

É-me estranho escrever sobre a felicidade: não só por preferir viver as coisas felizes, mas porque encontro-me abraçado à mágoa e à tristeza. O meu olhar, na maioria das vezes, denuncia-o. É, assim, a felicidade uma forma estranha de sê-lo: um poema visceralmente doloroso e cru, a rasgar as entranhas da nossa essência e a expor a finitude da nossa existência e a limitação da nossa compreensão.

Por isso, o que é felicidade? É tudo o que descrevi e coisa nenhuma.