Desafio De Escrita do Triptofano | Soprei As Bolinhas de Sabão
Pus a mala às costas e saí pelo mundo. Com a minha palhinha e água com sabão, larguei os meus sonhos, as minhas ilusões.
Um a um, os meus sonhos tornavam-se distantes. Ao pôr do sol, todo um novo Universo surgia diante de mim: eram os sonhos e as mágoas que larguei ao vento, em forma de bolinhas de sabão; eram as palavras ditas e das quais me arrependi, aliadas àquelas que não havia dito; eram os olhares trocados e desviados, mais os olhares cabisbaixos, presos ao chão, para não encontrar os olhares alheios. Tudo isto, formou um novo Universo saído de mim.
As horas iam passando e, quantos mais passos dava, maior se tornava o meu Universo. Diante de mim, das minhas bolinhas de sabão, surgiam os rostos que amei, os rostos que odiei e aqueles que desprezei. Via, também, aqueles que me amaram, que me odiaram e, no fundo, também aqueles que me desprezaram. Olhei e vi rostos desconhecidos: via ali, possivelmente, o que poderia ter sido e não foi; possivelmente o futuro. Suspirei e continuei a caminhar, sempre a sobrar as minhas bolinhas de sabão.
Surgia, então, diante de mim, um mar imenso. Uma densa floresta do outro lado. Ao longe, tão longe, a cidade da qual me afastava. No horizonte, conseguia ver a noite, o nascer do sol, o dia alto e o pôr do sol. Em perfeita harmonia, começavam onde terminavam os outros. O mar era infinito e imponente, bem como o meu medo e todo o meu respeito.
Pus a mochila às costas e saí, soprando as minhas bolinhas de sabão. Delas, nascia todo um Universo, criado do que existia dentro de mim: o melhor e o pior. Uniam-se as coisas em harmonia. Um dia, um certo dia, dei por mim neste mundo, sem bem saber, nem compreender como vim aqui parar. Hoje, sonho com um outro mundo, um outro Universo: tão vasto como o Universo em si, tão profundo como o mar.
Como se todo o Universo pudesse nascer de novo de bolinhas de sabão, deixei-me levar pela fantasia. Sou, também, uma bolinha de sabão levada pelo vento, que algum dia uma criança amou, enquanto as soprava com os seus pais num jardim qualquer e os risos ecoavam pela tarde.
Texto no âmbito do Desafio de Escrita do Triptofano.