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As Crónicas da Vítima

As Crónicas da Vítima

Devaneios: um registo de pensamentos e sentimentos

28.03.22 | Bruno

Deixei o desafio das 52 Semanas de 2022 desta semana em aberto, porque há muito que não pensava naquela questão. Como escrevi, nem sei se alguém vez me coloquei numa situação em que tivesse que pensar numa resposta para uma questão parecida.

Nestes últimos tempos não tenho escrito grande coisa. Não tenho escrito se não for para esse mesmo desafio ou para o desafio de escrita do Triptofano. E, mesmo para os desafios de escrita, tem sido algo desafiante nos últimos tempos e, no geral, tenho saído insatisfeito com os resultados da minha própria escrita. Como ouvi num filme num destes dias: é o que é.

Confesso que há coisas que me têm tomado bastante tempo a nível mental: as minhas relações com as pessoas, aquelas que foram quebradas no passado, retomadas recentemente e que, muito sinceramente, não sei para que se fez essa "retoma"; voltei às aplicações de encontros e, ainda que tenha sido tudo muito casual, comecei a falar com um rapaz e tenho vindo a gostar de falar com ele. Já se falou em tomar um café e, contrariamente ao que faria há alguns anos, em que tentaria evitar esse encontro, tenho mencionado o tal café várias vezes, o que não está a agradar-me; a minha vida profissional - ou a falta dela - e o meu relaxamento em relação a isso; alguns pensamentos aleatórios, que, muitas das vezes, até dariam bons tópicos de escrita, não fosse eu perder o fio de pensamento ou esquecer-me do que pensava, quando podia muito bem fazer algumas anotações no telemóvel.

Não há muito tempo, reencontrei pessoas com quem deixara de falar ou que deixaram de falar comigo. Enquanto que, com algumas pessoas, exista a possibilidade de retomar um relacionamento cordial, não consigo deixar de pensar: para quê? No parágrafo anterior, mencionei aquelas pessoas com quem recuperei algum nível de relacionamento, mas que, até hoje, fico a perguntar-me para que raio é que isso aconteceu? Para quê recuperar-se um relacionamento, quando se sabe que o que existia a nível de amizade ou carinho para com aquelas pessoas ficou irremediavelmente estragado e, recentemente, viu-se que aquelas pessoas estragam tudo em quanto tocam? No fim de contas não importa o quão importantes aquelas pessoas foram, actualmente acabam por ser um peso maior, do que o conforto que poderiam proporcionar-nos, do que o carinho que poderemos ter sentido no passado.

Em relação a um ex-amante, enviei uma mensagem uma noite destas. Afastei-me daquele homem: não, não foi o facto de ser seu amante que me levou a afastar-me dele, mas o facto de sentir que existia uma dose de loucura muito maior do que aquilo que quereria ou conseguiria suportar. Ouvia, naquele homem, discursos parecidos ao de outro com quem me envolvi há uns tempos e que levou-me a temer algumas surpresas desagradáveis. Decidi enviar uma mensagem a desculpar-me pelo súbito afastamento, já que sempre fui pessimo em dizer que queria afastar-me, e desejar que tudo estivesse bem, o que levou a que fosse bloqueado. Fiz a minha parte e a minha consciência está limpa e tranquila.

Houveram pessoas que se afastaram; há pessoas das quais me afastei. Com algumas delas, aconteceu retomarmos o contacto. Com outras, o afastamento foi definitivo. Sou aquele género de pessoas que guarda rancor: durante muito tempo e, muitas das vezes, mesmo quando esses relacionamentos são recuperados, existe alguma espécie, talvez não de rancor, mas de mágoa que sempre guardo em mim.

Mas, enquanto tenho pensado muito nas pessoas de quem me afastei que se afastaram de mim, tenho também aquele rapaz de quem me tenho aproximado. Já escrevi sobre os sentimentos e sobre a solidão. E, ainda que pareça que sou solitário, talvez por sair de casa sozinho e fazer as minhas caminhadas sozinho, para ir a um café e sentar-me sozinho numa mesa para beber café e fumar uns cigarros, a verdade é que há muito tempo que me habituei a isso. E é isso que torna um pouco assustadora a ideia de estar a conhecer alguém, a pensar em encontrar-me com alguém para beber um café e ver o que pode resultar daí: não sei se, após este tempo todo, terei alguma coisa a oferecer a essa pessoa. E ainda que o meu estilo de vida pareça solitário, a verdade é que a solidão, aquela de sentir-me afastado de alguém e com necessidade de alguém para ocupar um qualquer espaço vazio, não me assiste. Se me sinto só é, muitas vezes, no meio das multidões e entre grupos de amigos, porque acho que não existam muitas almas que se liguem à minha.

É claro que já tive sentimentos, ainda que possam ter sido não correspondidos. É claro que, no fim da adolescência, já tive alguns relacionamentos, mas que não resultaram, porque não havia ali nada para mim. Mas sei, também, que houve muita auto-sabotagem da minha parte, por sentir que, no fim de contas, não era alguém exterior de que precisava, senão de mim próprio. E sim, recentemente, com alguém de quem me afastei, ponderei a possibilidade de vir a ser importante ou a ter importância para essa pessoa - não aconteceu, mas não o lamento. Entre alguém, cuja amizade foi interrompida por motivos fúteis da sua parte, a tentar adivinhar esse de quem me afastei, apontou numa outra direcção e acabou por falhar: acabei por me aperceber, então, que existia alguém que me olhava com curiosidade e alguma estranheza. Sim, já fantasiei e não passou disso mesmo: fantasia.

Recentemente, tenho pensado nesses afastamentos: amizades e amantes. Tenho-me dado ao luxo de começar a conhecer alguém e a ponderar encontrarmo-nos pessoalmente, para um café a para nos conhecermos mais do que aos corpos do outro, até porque parecemos simpatizar um com o outro. E tenho escrito tão pouco, com tanto que tem acontecido.

Lamento, então, se chegaram aqui e ficaram entediados. No fim de contas, estou a registar o meu sentimento e o meu pensamento, em diversos campos da minha vida. Estou a registar a minha sensação e a minha emoção. Para mim. Mesmo que nunca mais me leia. Mas porque, como escrevo várias vezes, preciso de exorcizar-me, para que os meus demónios não me consumam.