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As Crónicas da Vítima

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Sementes Que Vou Largando | Desafio de Escrita do Triptofano

09.02.22 | Bruno

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Deito essas sementes para o chão. Como se me semeasse a mim a cada passo que dou, como se, do meu corpo, fossem brotar as raízes daquilo que sou, as flores daquilo que serei. Como se, daqui a um tempo, me consumisse em mim mesmo, raiz no sol.

Vou largando as sementes no chão e vou caminhando, como se o nada à minha frente fosse tão mais valioso do que as raízes que fui deixando para trás. Pois, também eu, sou como as flores que colhem e, mal murcham, são largadas ao esquecimento. Pois, também eu, sou a planta que devora o insecto, segurando entre os meus dentes a carne de uma presa que, mesmo reconhecendo o perigo, insiste em aproximar-se e em deixar-se devorar. Pois que, também eu, vou morrendo e renascendo em cada nascer, em cada pôr do sol.

Pelos caminhos que faço e pelas gentes que cruzo, brota sempre uma raiz da semente de uma interacção:simpatia, afinidade, desprezo, ódio. As ruas que atravesso têm já as minhas raízes fincadas; essas raízes que vão rasgando o alcatrão, pois que, ainda que me esqueçam, as minhas raízes são tão mais fortes do que eu próprio - há raízes nos prados das memórias dos outros, enquanto as minhas memórias são terrenos infertéis de esquecimento.

Pequena nota: este texto vem a propósito do Desafio de Escrita do Triptofano, que encontrei no separador da Comunidade do Sapo. Como passo bastante tempo sem escrever e já que um blog não sobrevive sem textos, imagens ou o que quer que seja que lhe dê vida e movimento, achei por bem aceitar este desafio, por forma a agilizar o meu blog e para forçar-me a sentar-me nem que fosse dez minutos em frente ao computador e a escrever, ao invés desperdiçar tempo nas redes sociais.

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